Caso Benício: mãe diz que médica 'não saía do celular' enquanto filho sofria após dose errada de adrenalina

Escrito em 02/12/2025


Caso Benício: Médico e enfermeiro prestam depoimento A mãe de Benício Xavier, de 6 anos, Joyce Freitas, afirmou durante um protesto por Justiça realizado nesta segunda-feira (1º) que a médica responsável pelo atendimento do filho “não saía do celular” enquanto o menino sofria reações graves após receber uma dose errada de adrenalina em um hospital particular de Manaus. O menino morreu após a reação à medicação. Segundo ela, a profissional demonstrou “despreparo total” e não soube conduzir o atendimento nos minutos críticos que antecederam a internação na sala vermelha. Benício morreu após receber uma dosagem incorreta de adrenalina entre os dias 23 e 24 de novembro, no Hospital Santa Júlia. A médica Juliana Brasil Santos, responsável pela prescrição da adrenalina que causou a morte da criança, admitiu o erro em documento enviado à polícia. O caso segue sob investigação da Polícia Civil e do Ministério Público (MPAM). No ato desta segunda, familiares e amigos pediram justiça, responsabilização e explicações sobre as falhas que, segundo a família, levaram à morte da criança. "Quando ela chegou, não tinha ação. Ela não sabia o que fazer. A equipe de enfermagem estava acudindo mais o meu filho que ela, porque ela não saía do celular. Pra gente, parecia que ela estava pedindo ajuda pra alguém, porque nem ela sabia conduzir a situação", relatou a mãe. Bruno Freitas, pai de Benício, também afirmou que a médica permaneceu com o celular na mão durante procedimentos de emergência. Ele disse que, em determinado momento, chegou a ver a profissional sair da sala enquanto falava ao telefone. "A gente não sentiu firmeza. Eu mal lembro dela dentro da enfermaria. Na sala de emergência, ela ficava no celular. Foi uma indignação muito grande", disse. As declarações do casal foram dadas no mesmo dia em que a Polícia Civil confirmou a veracidade das mensagens atribuídas à médica Juliana Brasil Santos, nas quais ela admite ter errado na prescrição da adrenalina e pede ajuda a um outro médico. Nos prints, a profissional escreve: "Pelo amor de Deus. Eu errei a prescrição. Me ajuda". A médica também reconheceu o erro em um relatório enviado pelo próprio hospital à polícia, que descreve que a criança recebeu adrenalina por via intravenosa, em quantidade e forma de administração incompatíveis para um paciente de 21 quilos, segundo especialistas ouvidos pela PC. O delegado Marcelo Martins, do 24° Distrito Integrado de Polícia (DIP), chegou a pedir a prisão preventiva da médica, mas ela está protegida por um habeas corpus preventivo concedido pelo Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM). Nesta segunda-feira, a Polícia Civil ouviu o médico Henryko Garcia, que confirmou troca de mensagens com a médica Juliana Brasil, e o enfermeiro Tairo Neves Maciel, que confirmou a versão da enfermeira de ter ficado sozinha no atendimento, contrariando o relato da médica. A defesa dos profissionais não foi localizada pelo g1. Uma acareação entre a médica e a técnica de enfermagem está marcada para quinta-feira (4), quando a polícia tentará esclarecer contradições. Os pais cobram que o caso não termine em impunidade. "O coração do nosso filho queimou naquele dia. Hoje é o nosso que sangra. Queremos justiça e que medidas concretas sejam tomadas para que isso nunca mais aconteça", disse o pai. LEIA TAMBÉM: Cronologia do atendimento de Benício mostra sequência que levou à morte da criança Técnica de enfermagem afirma ter apenas seguido prescrição médica Médica admite erro ao prescrever adrenalina que causou morte de Benício em Manaus Investigação Benício Xavier, de 6 anos, morreu após receber dose incorreta de adrenalina em hospital de Manaus. Redes sociais No dia 26 de novembro, o Conselho Regional de Medicina do Amazonas (CREMAM) informou que instaurou processo ético, em caráter sigiloso, para apurar a conduta da médica Juliana Brasil Santos. O Hospital Santa Júlia também disse que afastou, além da médica, a técnica de enfermagem, Raiza Bentes. No relatório do hospital enviado à Polícia Civil, ao qual a Rede Amazônica teve acesso com exclusividade, Juliana reconhece que errou ao prescrever adrenalina na veia de Benício Xavier. No documento enviado, a médica narra que comentou com a mãe da criança que a medicação deveria ser administrada por via oral. Ela afirmou também ter se surpreendido por a equipe de enfermagem não questionar a prescrição. Já a técnica de enfermagem Raiza Bentes, que atendeu a criança, disse que apenas seguiu a prescrição médica ao aplicar a dose de adrenalina. Segundo o delegado Marcelo Martins, o caso é investigado como homicídio doloso qualificado. A investigação, que já colheu depoimentos e analisou prontuários, avalia a possibilidade de que o episódio seja tratado como homicídio doloso qualificado pela crueldade. Apesar do pedido de prisão preventiva da médica pelo delegado, a Justiça negou por entender que não há, até o momento, "fundamentos suficientes" para manter a prisão. A profissional segue respondendo o processo em liberdade. O caso Benício foi levado ao Hospital Santa Júlia, no dia 22 de novembro, com tosse seca e suspeita de laringite, após apresentar dois episódios de febre. A família disse que a criança foi atendida por uma médica, que prescreveu lavagem nasal, soro, xarope e três doses de adrenalina intravenosa de 3 ml a cada 30 minutos. A aplicação foi feita por uma técnica de enfermagem de plantão. “Meu filho nunca tinha tomado adrenalina pela veia, só por nebulização. Nós perguntamos, e a técnica disse que também nunca tinha aplicado por via intravenosa. Falou que estava na prescrição e que ela ia fazer", relatou o pai. Segundo os pais, Benício apresentou uma piora súbita: ficou pálido, com membros arroxeados e relatou que "o coração estava queimando". A saturação de oxigênio caiu para cerca de 75%. Ele foi levado para a sala vermelha e, em seguida, intubado na UTI, por volta das 23h. Segundo o pai, a intubação provocou as primeiras paradas cardíacas. O menino sofreu seis paradas consecutivas, todas com tentativas de reanimação. A última foi fatal. Benício morreu às 2h55 do dia 23 de novembro. Familiares realizam manifestação em Manaus e pedem justiça pela morte de Benício Xavier Pais de Benício Xavier cobram justiça pela morte do filho em Manaus Rede Amazônica
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