Gates critica cortes dos EUA e prevê alta global da mortalidade infantil pela 1ª vez no século

Escrito em 05/12/2025


Gates critica cortes dos EUA e prevê alta global da mortalidade infantil pela 1ª vez no século Adobe Stock / Maxine Collins/BBC A mortalidade infantil registrará este ano um aumento "trágico" no mundo devido aos cortes na ajuda internacional por parte dos países ocidentais, alertou nesta quinta-feira (4) o bilionário Bill Gates em uma entrevista à AFP. O cofundador da Microsoft fez essas declarações após a publicação de um relatório da Fundação Gates, que aponta que 4,8 milhões de crianças terão morrido antes de completar cinco anos em 2025, o que representa o primeiro aumento desse número desde o início do século. Essa projeção constitui uma "tragédia" para Gates, que observa um retrocesso provavelmente inevitável, já que o número de mortes infantis não parava de diminuir desde os cerca de 10 milhões anuais registrados no começo dos anos 2000. Tanto para o bilionário quanto para os autores do relatório, a razão se deve à tendência geral dos países ocidentais de reduzir sua ajuda financeira ao exterior. Os Estados Unidos tomaram as medidas mais emblemáticas desde o retorno do republicano Donald Trump à presidência. Gates, especificamente, criticou a atuação de outro bilionário, Elon Musk, que durante vários meses dirigiu o Departamento de Eficiência Governamental (Doge), criado pelo presidente para cortar gastos públicos. Embora o Doge já tenha sido dissolvido, Musk decidiu reduzir drasticamente a ajuda americana, em particular a da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USaid). Veja os vídeos que estão em alta no g1 Vacinação Essa política "sem dúvida causou inúmeras mortes", denunciou Gates, que afirma estar agora "dialogando" com Trump para limitar os danos. "Eu o encorajo a restabelecer as ajudas, ou pelo menos a reduzi-las só um pouco", explicou. "Não tenho certeza de que vá conseguir", disse. Gates também mencionou a retirada do financiamento internacional destinado à Gavi, uma organização que reúne atores públicos e privados com o objetivo de acelerar os esforços de vacinação em todo o mundo. Essa decisão ocorre em um contexto no qual o secretário de Saúde dos Estados Unidos, Robert F. Kennedy Jr., conhecido por suas posições céticas em relação às vacinas, multiplica declarações infundadas nesse sentido. Gates denunciou as posições "amplamente desacreditadas e falaciosas" de Kennedy sobre a ideia de que "não se deveria recorrer à vacinação infantil". "Embora a Fundação Gates colabore com todas as administrações - e encontremos pontos em comum com o ministro Kennedy no que diz respeito às vacinas -, temos opiniões fundamentalmente opostas sobre o papel que elas desempenharam no mundo", apontou. Além dos Estados Unidos, o bilionário destacou que a diminuição "desproporcional" da ajuda internacional era uma tendência generalizada entre os países ocidentais e incluía também França, Alemanha e Reino Unido. O alerta lançado por Gates e sua fundação - criada em 2000 junto com sua esposa Melinda, de quem agora está divorciado - coincide com outros estudos. Em novembro, o Instituto de Saúde Global de Barcelona estimou que mais de 22 milhões de pessoas poderiam morrer devido aos cortes norte-americanos e europeus até 2030. Apesar dessas preocupações, o bilionário destacou avanços positivos na luta contra a mortalidade infantil, como o surgimento de tratamentos imunizantes contra o vírus sincicial respiratório (VSR), causador da bronquiolite. LEIA TAMBÉM: As 10 maiores mentiras sobre vacinas que viralizam no Telegram — e o que a ciência já sabe sobre cada uma Câncer de colo do útero: vacina muda vida de jovens e reduz quase 60% dos casos mesmo com vacinação abaixo do ideal OMS desmente Trump e afirma não haver evidências de que paracetamol na gravidez tenha ligação com autismo
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