BRASÍLIA, 27 de janeiro — O presidente Lula confirmou que teve um novo contato telefônico fora da agenda com Putin nesta manhã, no qual o mandatário brasileiro expressou interesse em visitar a Rússia em maio para as celebrações do "Dia da Vitória" na Segunda Guerra Mundial e mencionou que o ditador russo demonstrou interesse no "plano de paz" do "Grupo de Amigos da Paz", proposto por Brasil e China na ONU sobre a invasão russa à Ucrânia, um plano amplamente rejeitado pelos demais grandes países por só observar os interesses russos.
Em comunicado, o governo brasileiro informou que a ligação, que não constava na agenda oficial, ocorreu hoje às 10h30, com o objetivo oficial de "tratar de temas da agenda global e bilateral".
Participaram da conversa Lula, o ministro de Relações Exteriores Mauro Vieira e o assessor especial de Lula, Celso Amorim, que na prática, exerce as funções de ministro de Relações Exteriores do Brasil, embora não ocupe oficialmente o cargo.
"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou, nesta segunda-feira (27), às 10h30, por telefone, com o presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, para tratar de temas da agenda global e bilateral. Lula expressou sua preocupação com o cenário internacional e reafirmou o compromisso do Brasil com a promoção da paz. Putin agradeceu a contribuição de atores como o Brasil para a busca de uma solução para o conflito na Ucrânia e demonstrou interesse pelos trabalhos do Grupo de Amigos da Paz, lançado pelo Brasil e pela China na ONU em setembro passado. Os dois mandatários acordaram seguir em permanente contato sobre esse tema. O presidente russo cumprimentou o Brasil pelo lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza durante a presidência brasileira do G20, recordando que a Rússia foi um dos primeiros países a aderir à iniciativa. Sugeriu, ainda, a retomada da Comissão Bilateral de Alto Nível entre os dois países. Putin expressou apoio à presidência brasileira do BRICS e indicou disposição de seguir trabalhando no avanço de iniciativas em favor da facilitação do comércio e dos investimentos entre os membros e em outras áreas. Ambos saudaram o ingresso da Indonésia como membro pleno do BRICS. O presidente Lula agradeceu o convite russo para a comemoração, em Moscou, dos 80 anos da vitória na Segunda Guerra Mundial, em 9 de maio, e indicou intenção de comparecer. O presidente russo ressaltou que se encontrava hoje em São Petersburgo para a celebração dos 80 anos do fim do cerco a Leningrado. Demonstrou satisfação com perspectiva de receber o presidente brasileiro e fortalecer o relacionamento entre o Brasil e a Rússia." -Comunicações e Transparência Pública do Governo
Se confirmada, a viagem de Lula será a primeira visita oficial de seu mandato à Rússia.
Hoje conversei com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, para tratar de temas da agenda global e entre nossos países. Na ligação, reafirmei o compromisso do Brasil com a promoção da paz, a preocupação com o cenário internacional e seguir na busca por uma solução para o conflito…
— Lula (@LulaOficial) January 27, 2025
Vale ressaltar que na última semana o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, ao ser perguntado sobre o governo brasileiro, disse que e “o trem do Brasil já passou" e que nem ele nem o governo americano, por conta da proximidade do governo com a Rússia, consideravam mais a diplomacia brasileira relevante nas discussões.
"Hoje eu acho que o trem do Brasil, para ser sincero, passou. Falei com Lula, nos encontramos e pedi que ele fosse um parceiro para acabar com a guerra, etc. Agora ele não é mais um ‘player’. Ele também não será um ‘player’ para Trump" -Zelensky
A primeira visita de Lula à Rússia neste mandato estava agendada para outubro de 2024, com a participação na Cúpula dos BRICS em Kazan. No entanto, a viagem foi cancelada devido a uma queda que o mandatário sofreu no banheiro do Palácio do Alvorada.
Na ocasião, o ditador venezuelano Nicolás Maduro e autoridades de seu governo, incluindo o procurador-geral da República da Venezuela, acusaram Lula de simular um acidente doméstico para trabalhar pelo impedimento da entrada da Venezuela nos BRICS, como ocorreu durante a Cúpula, sem ser confrontado pessoalmente.
Naquela época, teria acontecido o último telefonema entre Lula e o ditador russo, no qual o presidente brasileiro confirmou, em uma conversa de 20 minutos, que participaria da cúpula apenas por vídeo, enquanto Putin expressou solidariedade em razão do acidente doméstico sofrido por Lula.
O Brasil assumiu neste ano a presidência rotativa do BRICS, grupo (econômico) atualmente composto por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Indonésia.
O ano da presidência de Lula seria marcado pela discussão sobre a criação de uma moeda comum para o grupo, ideia que segundo a Rússia teria sido idealizada pelo mandatário brasileiro, e que segundo o presidente Donald Trump seria respondida com tarifas de 100% contra os países que levantassem a proposta.
A ligação de Lula com Putin aconteceu no horário em que o presidente brasileiro se reuniria com Mauro Vieira para discutir a "situação dos deportados" brasileiros e reações do governo americano.
Espera-se que o governo brasileiro divulgue em breve uma nota solicitando que os brasileiros não sejam mais algemados sem necessidade durante os voos de deportação. No entanto, essa prática não será alterada, pois é um protocolo comum para garantir a segurança do voo e da tripulação, diante de motins que ocorreram em ocasiões anteriores.
Ontem, o presidente colombiano sofreu uma dura derrota política ao recuar da decisão de não aceitar mais os voos de deportados colombianos provenientes dos Estados Unidos, após Trump anunciar tarifas, bloqueio de vistos e sanções contra oficiais do país.
Petro havia recusado dois aviões militares que transportavam deportados colombianos, afirmando que isso não seria aceitável. Hoje, a Colômbia voltou atrás, inclusive em relação ao tipo de aeronave, que continuará sendo militar, ao contrário do que ocorre no Brasil.
Vale destacar que a decisão de deportação é irreversível e quando os deportados não são enviados nos aviões previstos pelos acordos, ficam detidos por longos períodos, sendo esse o motivo que justificou a criação dos acordos de transporte, os quais são custeados pelo próprio governo americano.
(Matéria em atualização)